Hoje, cada treino pode virar conteúdo, mas, à medida que cresce a exposição digital, novos cuidados se tornam indispensáveis, principalmente no uso da imagem na internet
O setor de academias vive um momento de transformação digital, comercial e reputacional. Nesse novo cenário, o jurídico deixou de atuar apenas na gestão de contratos e passivos para se tornar um importante parceiro na proteção da marca, na experiência do aluno e na governança digital.
Hoje, cada treino pode virar conteúdo, cada post pode gerar engajamento e risco. A presença digital fortalece o negócio, mas exige que academias e profissionais adotem práticas jurídicas tão modernas quanto suas estratégias de marketing. O setor fitness brasileiro é um dos mais dinâmicos e profissionalizados do mundo, e tem demonstrado avanços expressivos em gestão, segurança e relacionamento com o aluno. Mas, à medida que cresce a exposição digital, novos cuidados se tornam indispensáveis, principalmente no uso da imagem em redes sociais.
Da motivação à responsabilidade
O treino deixou de ser apenas uma prática física e se tornou também conteúdo. Um exercício registrado por um celular pode transformar-se em vídeo nas redes, impulsionado por hashtags motivacionais e usado como vitrine de resultados. Essa estratégia aproxima alunos e professores, gera engajamento e contribui para a identidade de marca das academias.
Mas o mesmo post que inspira pode expor. O uso da imagem de alunos em publicações feitas por academias ou por seus profissionais parceiros é um tema jurídico sensível, diretamente vinculado ao direito da personalidade, à proteção de dados pessoais e à responsabilidade contratual.
Com o avanço da LGPD e o fortalecimento da cultura de compliance, cresce a exigência de consentimento informado, formal e específico para o uso de imagem. A autorização não pode ser presumida nem genérica: deve ser clara, documentada e restrita à finalidade declarada.
O ponto mais sensível: professores e personal trainers
Muitas academias já incorporaram cláusulas contratuais prevendo o uso de imagem, o que representa um avanço importante na gestão preventiva. Ainda assim, é comum que algumas dessas cláusulas sejam genéricas ou mal redigidas, sem especificar o contexto de uso ou as plataformas de divulgação.
O desafio se intensifica quando professores ou personal trainers publicam fotos ou vídeos de alunos em seus próprios perfis pessoais, muitas vezes sem autorização formal e com base apenas em interações informais. Essa prática, embora bem-intencionada, pode gerar desconforto e questionamentos legítimos.
O problema não está na exposição em si, mas na falta de clareza sobre quem autoriza, com que finalidade e por quanto tempo a imagem pode ser usada. Mesmo quando há boa-fé, a ausência de registro formal abre margem para alegações de violação de direitos de imagem e para riscos reputacionais tanto para o profissional quanto para a academia.
A solução é simples e estratégica: criar procedimentos padronizados de autorização e orientar os profissionais sobre os limites legais e contratuais do uso de imagem. Esse tipo de diretriz protege a academia, o professor e, principalmente, a relação de confiança com o aluno.
Profissionais bem orientados, ambiente mais seguro
O amadurecimento jurídico do setor é visível. Cada vez mais academias revisam contratos, padronizam autorizações e treinam suas equipes sobre boas práticas de comunicação e privacidade. Trata-se de um movimento que fortalece a cultura de responsabilidade e consolida a reputação do setor.
Muitos profissionais de educação física ainda desconhecem o alcance jurídico dessas questões. Por isso, investir em capacitação é tão importante quanto investir em infraestrutura. Academias que alinham o discurso motivacional com uma prática responsável de comunicação digital demonstram compromisso com ética, governança e respeito ao aluno.
Treinar equipes e formalizar políticas internas reduz riscos e aumenta a credibilidade. Essa é a base da maturidade jurídica que tem caracterizado o novo momento do setor fitness.
Governança jurídica e reputação digital
Proteger a reputação de uma academia vai além de boas campanhas de marketing. Envolve consolidar uma governança jurídica adaptada à realidade digital, capaz de antecipar riscos e orientar o comportamento de quem representa a marca nas redes.
O tema já vem sendo tratado com seriedade por muitos gestores e departamentos jurídicos, mas requer atualização constante. O uso de imagem, assim como qualquer dado pessoal, está sujeito a reinterpretações legais, mudanças regulatórias e novas sensibilidades sociais.
Nesse contexto, o jurídico assume papel de liderança: traduz normas em orientações simples, cria fluxos de autorização eficientes e garante que o respeito ao aluno seja percebido como valor institucional e não apenas como obrigação legal.
Tratar o uso de imagem com responsabilidade é um sinal de maturidade. Demonstra alinhamento com boas práticas de governança e sensibilidade para as expectativas de privacidade que regem o ambiente digital.
O caminho da maturidade jurídica
O avanço do setor fitness é inegável, e o amadurecimento jurídico acompanha esse crescimento. Academias que investem em governança, contratos bem estruturados e capacitação de suas equipes transformam conformidade em reputação e prevenção em valor de marca.
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Revisar contratos, atualizar autorizações e reforçar políticas de conduta digital não é burocracia, é gestão. Essa postura protege direitos, evita desgastes e consolida uma cultura de confiança.
Mais do que evitar riscos, trata-se de traduzir o respeito ao aluno em valor organizacional. Academias que tratam imagem e privacidade como parte da experiência entregam confiança, pertencimento e solidez institucional.
O papel do jurídico é justamente esse: converter boas intenções em práticas consistentes que protegem a marca, fortalecem o negócio e posicionam o setor fitness brasileiro como referência de profissionalismo, ética e sustentabilidade.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
Fonte: Jovem Pan


