O que está acontecendo com a Groenlândia?
Vamos por partes. Sobre a ilha repousa uma das maiores camadas de gelo do planeta. Quando esse gelo derrete, o peso sobre a crosta diminui. A Terra, que parecia firme, reage: o solo sobe em alguns pontos, cede em outros, e o conjunto entra numa dança lenta de deformações. Esse processo tem nome elegante, ajuste isostático glacial, mas a ideia é simples: tirou o peso, o “colchão” responde.
Segundo o novo conjunto de medições, os cientistas usaram 58 estações geodésicas para medir posição, elevação do embasamento rochoso e estiramentos da ilha. É como pôr um monitor cardíaco em cada “órgão” da Groenlândia e assistir o corpo inteiro reagindo ao aquecimento do clima. E não é teoria solta: os dados mostram deslocamentos horizontais e verticais muito claros ao longo dos últimos anos.
Derreteu aqui, subiu ali: o efeito dominó do gelo
“Ok, mas foi tanto gelo assim?” Infelizmente, sim. Observações por satélite (GRACE e GRACE-FO) indicam que a Groenlândia perdeu, em média, 270 a 280 gigatoneladas de gelo por ano nas últimas décadas, e isso empurrou o nível médio do mar para cima em cerca de 0,8 milímetro por ano. Quando colocamos esses números no tabuleiro geológico, o tabuleiro mexe.
Para quem gosta de perspectiva: se a camada de gelo inteira derretesse (hipótese extrema e de longo prazo), o nível do mar poderia subir 7,4 metros. Não é papo de filme-catástrofe; é a matemática da água guardada em forma de gelo. Melhor manter isso como cenário a evitar, certo?
Mas “encolher” quer dizer o quê, exatamente?
Boa pergunta. Não é que a Groenlândia esteja virando uma “ilha fitness” do dia para a noite. O estudo mostra um encolhimento leve e assimétrico: partes costeiras perdem área enquanto o interior se eleva, devido à redistribuição de tensões e à erosão associada ao derretimento. Some a isso a deriva em direção ao noroeste e você tem uma ilha que muda de posição e de contorno, devagar, mas muda.
Curioso, né? Intuitivamente, muita gente imagina que, sem o peso do gelo, tudo “sobe” e ponto final. Só que o subsolo não é um bloco único; há rochas mais frágeis, falhas, zonas de fluxo antigo de gelo. Umas áreas esticam, outras se comprimem, como um cobertor puxado por lados diferentes. É essa dança que entrega a sensação de encolhimento em certas bordas.
Por que isso importa para quem mora longe da Groenlândia?
- Nível do mar: a perda de gelo da Groenlândia já é um dos maiores motores da elevação global dos oceanos. Cidades costeiras sentem no bolso com obras, diques e enchentes mais frequentes.
- Mapas e medições: geodésia, navegação e até modelos climáticos precisam corrigir a “mesa” onde fazem as contas. Se a ilha mexe, as referências mudam.
- Ecossistemas e geleiras: mudanças no relevo e na drenagem alteram rios de gelo, fiordes e habitats marinhos (nutrientes, salinidade, turvação). E isso respinga na pesca e nas comunidades locais.
E como sabemos que não é só “variação natural”?
Há registros históricos de ajustes pós-Idade do Gelo, claro. Mas a magnitude e a velocidade da perda de massa recente (medida por múltiplos satélites independentes) puxam a agulha para a influência humana. Estudos da NASA e colaborações internacionais mostram que o derretimento acelerado das últimas décadas não tem paralelo nos séculos anteriores.
Outras ilhas também “encolhem”? Sim, mas por motivos diferentes
Temos casos clássicos de erosão costeira e ilhas fluviais perdendo terreno, como Majuli, na Índia, porém o “plot twist” da Groenlândia é a combinação de derretimento + resposta do embasamento rochoso. É natureza e geofísica atuando em dupla.
O que observar daqui para frente
- Rede GNSS ampliada: mais estações = mapa mais preciso das “respirações” do solo.
- Dinâmica do gelo: anos com mais neve podem dar respiro, mas a tendência de aquecimento mantém o saldo negativo na longa duração.
- Planejamento costeiro: cada centímetro do mar conta; cidades precisam considerar cenários que incluem a contribuição da Groenlândia.
curiosidades sobre clima e geologia.
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