Contato digital com os mortos: As inteligências artificiais já estão prometendo essa façanha

Contato digital com os mortos: As inteligências artificiais já estão prometendo essa façanha

IAs são alimentadas por dados como mensagens, e-mails, vídeos, fotos, gravações de voz, e geram respostas baseadas em perfis do falecido

Aidin Geranrekab/UnsplashProjeto Project December permitia que o usuário criasse um chatbot simulando alguém  falecido

Neste 02 de novembro, enquanto muitas famílias visitam cemitérios, acendem velas e renovam suas lembranças, surge uma nova fronteira da decidida a reconfigurar a forma como nos relacionamos com a morte: a promessa de contato digital com os mortos — ou seja, o uso da (IA) para simular a presença, voz ou imagem de pessoas falecidas de forma interativa.

O que está em andamento

Diversas startups — e também centros de — já oferecem ou experimentam ferramentas que permitem conversar, em chat de texto ou até vídeo, com “aversões digitais” de pessoas mortas. Na prática, essas IAs são alimentadas por dados como mensagens, e-mails, vídeos, fotos, gravações de voz, e geram respostas baseadas em perfis do falecido.

Exemplos concretos:

  • O projeto Project December permitia que o usuário criasse um chatbot simulando alguém falecido, usando prompt, registros textuais e depois pagando para conversar com “ele”.
  • A empresa Eternos, com sede nos /, desenvolveu um “legacy-platform” que permitiu ao empreendedor Michael Bommer criar uma versão digital da sua voz e “presença” para a família interagir após sua morte anunciada.
  • Pesquisadores da University of Cambridge chamam essas entidades de “griefbots” ou “deadbots” — chatbots que simulam linguagem e personalidade de falecidos através de suas pegadas digitais.

O artigo acadêmico “Generative Ghosts: Anticipating Benefits and Risks of AI Afterlives” (2024) já analisa o fenômeno como inevitável: “aguardamos que, em nossas vidas, seja comum pessoas criarem agentes de IA para interagir com entes queridos após a morte”.

Possíveis benefícios e motivações

  • Conforto no luto: Pessoas enlutadas relatam que conversar com uma “versão digital” do ente amado oferece alívio — não substitui a perda, mas “preenche um pouco do vazio”.
  • Memória viva: A tecnologia pode auxiliar a preservar histórias, valores, memórias familiares — por exemplo, registrar longas entrevistas com uma pessoa ainda viva para depois serem acessadas via avatar digital.
  • Legado e sensação de continuidade: Para quem se aproxima da morte, a possibilidade de “deixar algo interativo” para filhos, netos ou entes queridos pode parecer uma forma de estender o impacto da sua vida.
  • Inovação tecnológica: Esse campo abre debates interessantes sobre identidade, consciência, memória, e como a tecnologia lida com o que significa “morrer”.

Problemas, impactos negativos e questões éticas

1. Complicação do luto e da aceitação

Embora possa haver conforto, especialistas alertam: usar IAs para “trazer de volta” falecidos pode impedir a aceitação da morte, atrasar o luto ou gerar dependência emocional.

  • Um usuário declarou: > “Sei que era IA… mas quando comecei a conversar, senti que estava falando com ele.”
  • A psicologia mostra que lidar com a ausência, a ausência real, é parte saudável do processo de luto — substituí-la por simulação pode travar esse ciclo.

2. Autenticidade, consentimento e manipulação

  • Quem define se a “voz” digital é realmente a voz da pessoa que se foi? O consentimento prévio é raro. E os perfis gerados podem distorcer ou caricaturar o falecido.
  • A Cambridge advertiu sobre “digital hauntings” — se alguém cria uma versão da pessoa que não pediu, ou que continua a gerar respostas indefinidamente, pode causar trauma.
  • Há problemas de propriedade dos dados: mensagens, fotos, gravações — quem pode usar para gerar a IA?

3. Mercantilização da morte e vulnerabilidade

  • Esse ecossistema já está se tornando mercado: serviços pagos para criar avatares, versões de vídeo ou áudio, manutenção de “presença digital” após a morte.
  • Em uma instância, um usuário relatou pagar para ter interação na plataforma: “Eu uso o app 3-4 vezes por semana… ajuda com os ‘e se’s’”.
  • Crianças em luto podem ser mais vulneráveis a confundir o que é real e o que é simulado. Um alerta sobre esse risco.

4. Impacto sobre , memória e mortalidade

  • A tecnologia redefine o que entendemos por “morrer”. Se alguém pode “continuar” digitalmente, como lidamos com legado, herança, ausência real?
  • Há risco de banalizar ou “artificializar” o processo de morte, transformando-o em produto ou .
  • A linha entre memória honrada e simulação inquietante pode se tornar tênue — para alguns, conversar com “o falecido” vira conforto; para outros, esquecimento e estagnação.

Perguntas que ficam para bem além do Dia de Finados

  • Como regulamentar esse tipo de tecnologia? Deve haver padrões sobre consentimento, dados, transparência (“você está falando com IA, não com a pessoa real”)?
  • Qual o impacto psicológico a longo prazo, sobretudo em crianças ou pessoas vulneráveis?
  • Qual será o papel dos direitos digitais após a morte? Quem detém os dados, e quais usos são permitidos?
  • Como as diferentes culturas e religiões vão reagir — em contextos onde a morte tem forte conotação espiritual ou ritualística?
  • Como garantir que isso não se transforme em mais uma forma de alienação — substituindo a comunhão verdadeira, os rituais de luto, o acolhimento humano — por uma simulação?

Neste Dia de Finados, ao acendermos as velas e mantermos viva a lembrança dos que partiram, cabe refletir: a tecnologia que promete “reunir” os mortos digitalmente pode parecer bênção — mas também contém armadilhas. A ideia de conversar com quem se foi, reviver memórias, manter ligações interrompidas é tentadora. Mas substitui-se ou complementa-se a dor do luto? E a que custo emocional, ético ou social?

Em última análise: a morte continua sendo parte integrante da vida humana — e talvez o que precisamos não seja tanto extensão digital, mas memória digna, afeto humano, presença no real — e a coragem de deixar ir quando for hora.

Quer se aprofundar no assunto, tem alguma dúvida, comentário ou quer compartilhar sua
experiência nesse tema? Escreva para mim no Instagram: @davisalvesphd.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.



Fonte: Jovem Pan

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