Quem está por trás do “coro jurássico”
A responsável pela façanha é Courtney Brown, da Universidade Metodista Meridional, nos Estados Unidos. Cantora e pesquisadora, ela decidiu juntar duas paixões que, à primeira vista, parecem de mundos diferentes: paleontologia e música. O gatilho veio ao ouvir, em uma exposição imersiva, o som de um Parasaurolophus e pensar: “dá para tornar isso mais fiel e mais tocável?”
Por que começar pelos hadrossauros
O projeto piloto mirou os hadrossauros, aquele grupo de herbívoros com cristas elaboradas na cabeça. Entre eles, o Corythosaurus é um prato cheio: a crista forma um verdadeiro sistema de tubos e câmaras ligado ao trato respiratório. Em linguagem simples, a cabeça funciona como um instrumento de sopro embutido.
Como a voz foi “montada” peça por peça
Para sair do achismo e chegar ao som, Brown usou tomografias computadorizadas de crânios de Corythosaurus juvenis. Com esses dados, ela gerou modelos digitais e produziu, via impressão 3D, um molde físico das câmaras de ressonância e das passagens de ar. Em seguida, acoplou uma laringe mecânica e soprou o sistema, variando fluxo e pressão de ar até encontrar timbres plausíveis.
O conjunto recebeu um nome com cara de playlist: Dinosaur Choir. O “coro” é, na prática, uma família de instrumentos bio-acústicos que convertem respiração, voz ou sinais digitais em vibração, fazem o ar percorrer o “crânio impresso” e geram o som resultante.
Do bocal ao sem-contato: evolução do instrumento
No começo, o protótipo lembrava um trompete: você encostava a boca, vibrava a laringe mecânica e o som ecoava nas cavidades. Durante a pandemia, veio o desafio: como tocar sem contato? A solução foi elegante. Brown, em parceria com o professor Cezary Gajewski, adicionou sensores que captam vibrações da voz ou da respiração e as convertem em sinais elétricos. Esses sinais alimentam uma caixa de voz digital, que pressuriza o ar e “canta” pelas passagens do crânio impresso.
Para minimizar distorções, uma câmera acompanha o formato da boca do intérprete e corrige variações. Resultado: mais consistência no timbre e menos interferência humana onde não deve.
Mas afinal, como soava um Corythosaurus
Não espere rugidos de leão. A graça aqui está na ressonância grave e cavernosa, com longos booms que lembram cornetas, didgeridoos e, às vezes, um assobio grave e pulsante. Dependendo do fluxo de ar, a emissão vai de um sussurro aerado a um bramido profundo. É um som que faz sentido para comunicação a longa distância, alerta ao bando e exibição.
Siringe, laringe e a inspiração nas aves
Para testar hipóteses, a caixa vocal digital inclui modelos de laringe e também um módulo inspirado na siringe das aves, o órgão fonador dos pássaros. Por quê? Estudos recentes sugerem que alguns dinossauros podiam ter mecanismos vocais mais próximos dos das aves do que imaginávamos. Ao alternar entre esses modelos, o sistema explora um espectro realista de timbres e evita um único “som oficial”. Ciência não é dogma.
Do laboratório para o mundo: dá para tocar em casa
O plano de Brown é liberar os arquivos de impressão 3D e o software do Dinosaur Choir ao público. Se você tem uma impressora 3D, microfone e câmera, poderá experimentar versões do instrumento. Não é barato imprimir em alta resolução, mas abre a porta para músicos, educadores e museus criarem instalações interativas que literalmente dão voz ao passado.
O que vem aí no setlist dos fósseis
Depois do Corythosaurus, a equipe quer investigar outros dinossauros, como um nodossauro com passagens nasais em espiral. Tomografias abertas de exemplares do Condado de Tarrant, no Texas, já alimentam modelos preliminares. Cada crânio é um “instrumento” diferente, com rotas e volumes próprios de ar. A graça está justamente nas diferenças de timbre entre espécies.
Fonte: Revista Galileu
Esse conteúdo Ouça: os sons que dinossauros faziam há 70 milhões de anos foi criado pelo site Fatos Desconhecidos.