Uma nova vacina personalizada contra o câncer mostrou resultados promissores em pacientes com câncer renal avançado. Em artigo publicado nesta quarta-feira (5) na revista científica Nature, uma das mais renomadas da área, pesquisadores mostraram que todos os noves participantes de um ensaio clínico geraram uma resposta imune anticâncer bem-sucedida após receber o tratamento.
Segundo o artigo, as vacinas foram administradas após a cirurgia de remoção do tumor e são projetadas para treinar o sistema imunológico a reconhecer e eliminar células tumorais restantes.
“Estamos muito animados com esses resultados, que mostram uma resposta tão positiva em todos os nove pacientes com câncer renal”, afirma Toni Choueiri, diretor do Lank Center for Genitourinary Cancer do Dana-Farber, nos Estados Unidos, coautor sênior e copesquisador principal do estudo, em comunicado à imprensa.
A cirurgia é o tratamento padrão para pacientes com carcinoma renal de células claras, um tipo de câncer renal, em estágio III ou IV. O procedimento pode ser seguido por imunoterapia com pembrolizumabe, um inibidor de ponto de verificação imunológico.
O pembrolizumabe induz uma resposta imunológico que reduz o risco de o câncer voltar. No entanto, cerca de dois terços dos pacientes podem sofrer recidivas (retorno do tumor) e têm opções de tratamentos limitadas.
“Pacientes com câncer renal em estágio III ou IV correm alto risco de recorrência”, diz Choueiri. “As ferramentas que temos para reduzir esse risco não são perfeitas e estamos buscando incansavelmente mais.”
Por isso, os pesquisadores decidiram investigar novas formas de combater esse tipo de câncer. No ensaio clínico, eles trataram nove pacientes com carcinoma de células renais claras em estágio III ou IV com uma vacina contra câncer personalizada após a cirurgia. Cinco pacientes também receberam ipilimumab com a vacina.
Vacinas personalizadas são aquelas desenvolvidas para reconhecer o câncer individual de um paciente a partir do tecido tumoral removido durante cirurgia. A equipe de pesquisadores extrai características moleculares das células tumorais (neoantígenos) que as diferenciam das células normais. Os neoantígenos são pequenos fragmentos de proteínas mutantes que existem no câncer, mas não em nenhuma outra célula do corpo.
Os pesquisadores usaram algoritmos preditivos para determinar quais desses neoantígenos incluir na vacina com base na probabilidade de induzir uma resposta imune. A vacina é, então, fabricada e administrada ao paciente em uma série de doses iniciais seguidas por dois reforços.
“Essa abordagem é realmente distinta das tentativas de vacina no câncer renal”, diz David A. Braun, médico oncologista do Yale Cancer Center e da Yale School of Medicine e primeiro autor do estudo.
“Nós escolhemos alvos que são exclusivos do câncer e diferentes de qualquer parte normal do corpo, para que o sistema imunológico possa ser efetivamente “direcionado” para o câncer de uma forma muito específica. Aprendemos quais alvos específicos no câncer são mais suscetíveis ao ataque imunológico e demonstramos que essa abordagem pode gerar respostas imunológicas duradouras, direcionando o sistema imunológico a reconhecer o câncer. Acreditamos que esse trabalho pode formar uma base para o desenvolvimento de vacinas neoantígenas no câncer renal”, completa.
Por meio de uma série de análises, a equipe descobriu que a vacina induziu uma resposta imune em três semanas, com o número de células T [células do sistema imunológico responsáveis pela defesa do organismo] induzidas pela vacina aumentando em 166 vezes — e esses níveis permaneceram altos por até três anos. Segundo os autores do estudo, nenhum efeito colateral grave foi relatado pelos participantes do estudo.
Ensaios clínicos com um número maior de pacientes são necessários para confirmar a eficácia da vacina e explorar seu potencial total no combate ao câncer. Um estudo randomizado internacional multicêntrico está em andamento e usa uma vacina personalizada contra câncer com direcionamento de neoantígeno semelhante. Ela será administrada em combinação com imunoterapia pembrolizumabe.
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Fonte: CNN Brasil