Você já parou para pensar onde a vida poderia começar em outras galáxias? Uma descoberta recente trouxe essa pergunta de volta com força. Pela primeira vez, cientistas detectaram moléculas orgânicas complexas, aquelas que servem de base para a vida, fora da nossa Via Láctea. E adivinha onde elas estavam? Presas em gelo interestelar ao redor de uma estrela que ainda está nascendo.
O achado que surpreendeu os astrônomos
A revelação veio de um estudo internacional publicado nesta semana e confirmado pela European Southern Observatory (ESO). Usando observações combinadas do Telescópio Espacial James Webb (JWST) e do observatório ALMA, os pesquisadores encontraram moléculas orgânicas congeladas na região de formação estelar da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da nossa. Essas moléculas foram identificadas ao redor de uma protoestrela batizada de ST6, um astro ainda em gestação, envolto em poeira e gelo. Elas incluem compostos com mais de seis átomos, como metanol (CH3OH), etanol (C2H5OH) e até precursores de aminoácidos, substâncias que, aqui na Terra, estão intimamente ligadas ao surgimento da vida.
“É a primeira vez que conseguimos detectar moléculas orgânicas complexas congeladas fora da Via Láctea”, explicou a astrônoma Marta Sewiło, da NASA Goddard e coautora do estudo.
“Esses compostos são peças fundamentais para entender como a química da vida começa, e encontrá-los em outra galáxia mostra que esses processos são universais.”
O que é a Grande Nuvem de Magalhães?
Se você olhar para o céu noturno do hemisfério Sul, pode avistar uma mancha difusa, parece uma nuvem, mas na verdade é uma galáxia anã. A Grande Nuvem de Magalhães (GNM) orbita a Via Láctea e está a cerca de 160 mil anos-luz da Terra. É uma vizinha próxima e um verdadeiro laboratório natural para os astrônomos estudarem como as estrelas nascem e evoluem.
O ambiente da GNM é mais “primitivo” que o da nossa galáxia: contém menos metais e poeira, o que a torna parecida com o universo jovem, logo após o Big Bang. Por isso, encontrar moléculas orgânicas por lá é um indício poderoso de que a química essencial para a vida pode surgir mesmo em condições muito diferentes das nossas.
O gelo que guarda segredos cósmicos
As moléculas detectadas estavam preservadas em gelo, uma camada congelada que envolve grãos de poeira interestelar. Esse gelo funciona como um “laboratório natural”, onde átomos e moléculas se combinam lentamente, formando compostos cada vez mais complexos. Quando uma estrela começa a se aquecer, parte desse gelo evapora, liberando o material químico no espaço, o que pode, em teoria, semear planetas e luas em formação.
Segundo os cientistas, esse processo é o mesmo que ocorre em regiões de formação estelar da Via Láctea, como a Nebulosa de Órion. A diferença é que, até agora, ninguém tinha conseguido provar que ele também acontece em outras galáxias.
“É como encontrar uma receita familiar em outro planeta: muda o ambiente, mas os ingredientes e o modo de preparo são os mesmos”, comparou Sewiło, em tom bem-humorado.
Como foi feita a detecção
O James Webb analisou a luz infravermelha que atravessa o gelo interestelar em torno da estrela ST6. Cada tipo de molécula absorve a luz de forma diferente, deixando uma “assinatura” única no espectro. Ao comparar esses padrões com dados de laboratório, os cientistas conseguiram identificar as substâncias presentes. Já o ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), localizado no deserto do Atacama, no Chile, foi usado para observar as emissões de rádio da mesma região. A combinação dos dois instrumentos forneceu um retrato detalhado da composição química do local, confirmando a presença dos compostos orgânicos congelados.
O que isso significa para a busca por vida
Calma, ainda não estamos falando de ETs. Mas essa descoberta amplia, e muito o horizonte da astrobiologia. Se moléculas orgânicas complexas podem se formar em ambientes tão distantes e hostis, é possível que os ingredientes básicos da vida sejam mais comuns do que imaginávamos. Esses compostos podem viajar incorporados em cometas e asteroides, contaminando planetas jovens e fornecendo a “faísca química” para o surgimento da vida. Essa hipótese é conhecida como panspermia e embora ainda esteja em debate, a nova descoberta dá um belo empurrão a favor dela.
Um olhar para o passado do universo
Além de levantar questões sobre a vida, o estudo também ajuda a entender a química do universo primitivo. A Grande Nuvem de Magalhães tem baixa concentração de metais, parecida com as galáxias do início dos tempos. Observar a formação de moléculas complexas lá é como abrir uma janela para o passado e ver como a matéria se organizava bilhões de anos atrás.
“Estamos vendo o mesmo tipo de processo que aconteceu quando o universo tinha apenas alguns bilhões de anos”, disse Maria Drozdovska, pesquisadora do Instituto Max Planck de Astronomia. “Isso mostra que a química da vida pode ter começado muito antes do que pensávamos.”
Esse conteúdo Moléculas que dão origem à vida são detectadas fora da Via Láctea pela primeira vez foi criado pelo site Fatos Desconhecidos.




