A precariedade das finanças públicas é um desafio constante para prefeituras brasileiras, especialmente em municípios que enfrentam limitações econômicas e alta dependência de repasses federais. No Maranhão, essa realidade tem se mostrado ainda mais crítica, com um número crescente de gestores declarando calamidade financeira para lidar com dívidas acumuladas, salários atrasados e serviços públicos comprometidos.
Esse cenário não é novo, mas tem ganhado proporções alarmantes nos últimos meses, expondo a fragilidade administrativa de algumas cidades e a falta de planejamento de gestões anteriores.
Em municípios como Balsas, Pinheiro, Coroatá, Santa Luzia do Maranhão e outros, a situação ultrapassa os números e atinge o cotidiano de milhares de pessoas, mostrando que os desafios administrativos não se limitam às fronteiras locais — eles refletem uma crise estrutural que exige medidas urgentes e mais responsabilidade na gestão dos recursos públicos. Na última quarta-feira (15), o prefeito Alan da Marissol (PRD), afirmou que a dívida de mais de R$ 15 milhões, atribuída à gestão anterior, tornou inviável o funcionamento da administração pública sem medidas emergenciais. Entre os problemas apontados estão débitos previdenciários, salários atrasados e o bloqueio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Em um comunicado divulgado nas redes sociais, o prefeito Alan da Marissol, ao decretar Situação de Calamidade Financeira, revelou uma dívida composta por débitos previdenciários, salários atrasados e bloqueios no Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A medida, segundo o gestor, é imprescindível para evitar o colapso total da administração pública. “Começamos com o compromisso de legalidade e transparência, mas o que encontramos foi um cenário de caos financeiro. Dívidas deixadas pela gestão anterior inviabilizam ações básicas do município. Estamos tomando medidas para reverter essa situação e restabelecer o equilíbrio financeiro, porque nosso compromisso é com o povo de Balsas”, afirmou Alan em comunicado oficial.
A situação de Balsas não é isolada. Conforme já havia apontado O Imparcial no início deste mês, em cidades como Olho d’Água das Cunhãs, Cedral, e Imperatriz, onde os prefeitos, Vaval Gomes (PP), Danilo Moraes (PSB), Rildo Amaral (PP) também recorreram a decretos de calamidade para lidar com desordens financeiras herdadas.
Em Santa Luzia do Maranhão, o prefeito Juscelino Marreca (PRD) se reuniu com o sindicato da educação para explicar que não havia recursos suficientes para quitar os pagamentos atrasados do mês de dezembro de 2024, deixados pela gestão anterior.
Em Timon ,463 cargos comissionados serão extintos
Marreca se comprometeu fazer o pagamento do mês de janeiro no próximo dia 30 e fazer uma programação para pagar o que ainda está em débito.
Quem também enfrenta uma grave crise administrativa e financeira, é município de Pinheiro, localizado na Baixada Maranhense. O prefeito André da Rapnet (PODE) decretou na semana passada situação de emergência, alegando que a falta de transição por parte do ex-prefeito Luciano Genésio (PP) agravou os problemas encontrados ao assumir a prefeitura.
De acordo com a nova administração, a ausência de cooperação do gestor anterior resultou em uma série de entraves para o funcionamento da máquina pública. Entre os principais problemas apontados estão a falta de medicamentos e insumos básicos nas unidades de saúde, paralisação dos serviços de limpeza pública, transporte escolar e manutenção de vias. Além disso, o novo gestor se deparou com a ausência de relatórios financeiros, contratos administrativos e prestações de contas obrigatórias. A situação de inadimplência com fornecedores essenciais e a inexistência de saldos financeiros consolidados nos bancos oficiais completam o cenário de caos.
Em Coroatá, a gestão do prefeito Edimar Franco (PSB), conhecido como “Edimar Vaqueiro”, enfrenta uma situação ainda mais crítica, com bloqueios de R$ 5 milhões no FPM, irregularidades em contratos e licitações, precariedade em prédios públicos e ações judiciais por descumprimento de decisões ambientais. A calamidade declarada em Coroatá não se resume a números; ela impacta diretamente a população, que se depara com serviços básicos comprometidos, desde a coleta de lixo até atendimentos em saúde e educação.
O quadro atual das finanças municipais no Maranhão revela não apenas a má gestão de recursos, mas também a fragilidade de prefeituras que, em muitos casos, dependem quase que exclusivamente de repasses federais, como o FPM, para manter serviços essenciais. O bloqueio desses repasses, muitas vezes decorrente de inadimplência com o INSS ou outras pendências fiscais, paralisa a administração pública e agrava a crise. As denúncias de irregularidades em gestões passadas reforçam a necessidade de maior fiscalização e transparência na aplicação dos recursos públicos, além de apontarem para um padrão de descontinuidade administrativa que prejudica diretamente os cidadãos.
Enquanto muitos prefeitos declaram calamidade como medida inicial para enfrentar o caos, algumas gestões estão buscando soluções mais estruturadas. Em Timon, por exemplo, o prefeito Rafael Brito (PSB) sancionou uma Reforma Administrativa que prevê a extinção de 463 cargos comissionados, representando uma economia de mais de R$ 1,25 milhão por mês. Embora a medida tenha sido bem recebida por especialistas em administração pública, ela levanta questões sobre a viabilidade de manter a eficiência administrativa com uma equipe reduzida.
Questão de transparência
O acompanhamento detalhado dos casos de calamidade financeira pelas equipes de O Imparcial já havia identificado esse padrão preocupante no início do mês. A situação financeira de várias prefeituras no Maranhão reflete uma crise de grandes proporções, com dívidas acumuladas, falta de planejamento e descontinuidade administrativa.
Em Imperatriz, Rildo Amaral adotou medidas como a suspensão temporária de pagamentos de dívidas da gestão anterior, revisão de contratos e suspensão de benefícios fiscais concedidos irregularmente.
Em Olho d’Água das Cunhãs, o prefeito Vaval Gomes decretou calamidade financeira por 180 dias, enfrentando dívidas milionárias deixadas pela administração anterior, incluindo a folha de pagamento de servidores e débitos com empréstimos consignados. Já em Cedral, Danilo Moraes denunciou a omissão de documentos essenciais pela gestão anterior, comprometendo a continuidade dos serviços. Em Paço do Lumiar, a administração de Fred Campos conseguiu reverter o bloqueio judicial das contas municipais, garantindo o pagamento de salários atrasados.
Enquanto isso, em Rosário, sob a gestão de Jonas Magno (PDT), o recadastramento funcional de servidores está sendo realizado para melhorar a transparência na gestão pública, conforme explicou o secretário Valber Braga Neto.
Os novos gestores destacam a importância de medidas emergenciais para superar o cenário crítico, mas reconhecem que a recuperação financeira e administrativa exige esforço contínuo, transparência e responsabilidade.
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Fonte: O Imparcial