Às vezes, tudo o que precisamos é de uma ideia inspiradora. Foi exatamente isso que aconteceu com o fotógrafo norte-americano Gary He, que, ao longo de vários anos, visitou mais de 55 países e conheceu cerca de cem unidades do McDonald’s em seis continentes.
A partir dessa experiência, ele lançou o livro “McAtlas: A Global Guide to the Golden Arches” (Um Guia Global para os Arcos Dourados, em tradução livre), que faz referência ao famoso logo da rede de fast food. A obra reúne registros de diversas unidades do McDonald’s ao redor do mundo e, segundo o site oficial, o projeto não é apenas sobre a marca, mas também uma “antropologia social e visual da maior rede de restaurantes do mundo“.
O Brasil está presente no livro com o icônico Méqui 1000, localizado na Avenida Paulista, em São Paulo. Sobre essa unidade, Gary He comentou ao CNN Viagem & Gastronomia: “Poucos países têm um restaurante com um cardápio exclusivo e que ainda usa a fachada para projetos de arte.”
Gary He também destacou outros aspectos da rede no Brasil. Um deles foi a perda, pelo Bob’s, rede de fast food concorrente, do direito de uso do nome “Milkshake de Ovomaltine” — uma licença que durou 56 anos — para o McDonald’s, em 2016.
“O detalhe curioso é que o pó de Ovomaltine só adquire uma textura crocante no Brasil devido ao clima do país”, comentou o fotógrafo.
A inspiração para o livro surgiu durante o Ramadã, em Marrakech, no Marrocos, em 2019. Enquanto caminhava pelas ruas da cidade, Gary encontrou uma loja do McDonald’s vendendo um kit completo de iftar — a refeição que quebra o jejum diário no mês sagrado do Islã — composto por sopa harira, tâmaras, doces com mel e uma bebida de iogurte.
“Era uma adaptação tão específica ao contexto local e não havia nada sobre isso na internet. Foi aí que decidi que esse projeto precisava sair do papel”, contou o fotógrafo.
O McAtlas ainda não está disponível para compra no Brasil, mas Gary He procura um distribuidor no país. Por enquanto, a coletânea pode ser adquirida pelo site oficial para quem reside nos Estados Unidos ou no Canadá, ou em lojas online, como a Amazon, a partir de US$ 49,95 (cerca de R$ 289).
A entrevista completa com Gary He aborda outros temas, como o investimento financeiro para a criação do McAtlas, a opinião do autor sobre o sucesso global do McDonald’s e as unidades favoritas dele ao redor do mundo.
A matéria foi traduzida do inglês para o português e editada para melhor compreensão.
CNN: Como surgiu a ideia para criar o McAtlas?
Gary He: Sou jornalista e escrevo principalmente sobre comida. O que me chocou foi perceber que ninguém estava documentando de forma séria a maior rede de restaurantes do mundo. O estalo veio em 2019, durante o Ramadã, no Marrocos, quando vi um McDonald’s vendendo um kit completo de iftar: sopa harira, tâmaras, doces com mel e uma bebida de iogurte. Era uma adaptação tão específica ao contexto local e não havia nada sobre isso na internet. Foi aí que decidi que esse projeto precisava sair do papel.
CNN: Quanto tempo você passou viajando pelo mundo para visitar esses McDonald’s? E você bancou essas viagens do próprio bolso ou teve algum apoio? Pergunto porque sei que o McDonald’s não quis se envolver no projeto…
GH: Venho documentando o McDonald’s desde 2017, mas a maioria das fotos foi tirada entre 2021 e 2024. O McAtlas é um trabalho jornalístico totalmente independente e sem qualquer apoio de empresas.
CNN: Você diz que este não é um livro sobre o McDonald’s, mas sim “uma antropologia social visual da maior rede de restaurantes do mundo”, segundo a CNN Travel. O que te levou a enxergar dessa forma?
GH: Na mídia, o McDonald’s é geralmente tratado superficialmente—ou como um case financeiro ou como uma matéria caça-cliques. Quase ninguém tenta abordar a marca de uma forma mais acadêmica. Vi aí uma oportunidade de transformar um tema super acessível em uma narrativa sobre cultura e hábitos alimentares pelo mundo.
CNN: Durante suas viagens, o que você aprendeu sobre o McDonald’s como marca? Na sua opinião, qual é o segredo do sucesso global deles? Seria a capacidade de se adaptar às culturas locais?
GH: Acredito que a adaptação local foi essencial para o crescimento do McDonald’s ao redor do mundo. Um exemplo marcante disso é o McSpaghetti, nas Filipinas. Quando o McDonald’s chegou ao país, já havia uma rede local concorrente que seguia a mesma estratégia da marca americana. O problema? Os filipinos tinham um carinho especial por um tipo de espaguete com molho marinara adocicado, que surgiu a partir da adaptação de kits de refeições militares. Esse prato se tornou um clássico em festas de aniversário infantis. Para conquistar esse mercado, o McDonald’s precisou incluir o McSpaghetti no cardápio. Hoje, as Filipinas são o décimo maior mercado da rede.
CNN: Você também foi no Méqui 1000, na Avenida Paulista, em São Paulo. Quais foram suas impressões sobre ele?
GH: O Méqui 1000 é uma das lojas mais incríveis do McDonald’s no mundo. Poucos países têm um restaurante com um cardápio exclusivo e que ainda usa a fachada para projetos de arte. É realmente um McDonald’s único, que vale a pena visitar.
CNN: Como você acha que o McDonald’s no Brasil se adapta à cultura local? E quais foram suas impressões como americano?
GH: O McDonald’s no Brasil tem versões diferentes de pão de queijo, algo que você não encontra em nenhum outro lugar do mundo. Mas o que mais me chamou atenção foi a rivalidade com o Bob’s, uma rede de hambúrgueres brasileira que sempre foi famosa pelo milkshake de Ovomaltine. O detalhe curioso é que o pó de Ovomaltine só adquire uma textura crocante no Brasil devido ao clima do país. Alguns anos atrás, o Bob’s perdeu os direitos sobre o nome “milkshake de Ovomaltine”, e o McDonald’s foi lá e adquiriu os direitos. Foi um baita golpe estratégico.
CNN: Quais foram os seus McDonald’s favoritos e por quê?
- McSki (Lindvallen, Suécia): Fica no meio do nada, no alto de uma montanha. O cenário rendeu algumas das minhas fotos favoritas da viagem;
- O avião de Taupō (Nova Zelândia): Icônico, mas um verdadeiro perrengue para chegar até lá. Foi emocionante ver de perto depois de tanto tempo planejando a visita;
- Primeiro McDonald’s da China (Shenzhen): Além de ser lindo, tem um peso histórico enorme. Ele foi parte de um experimento econômico que transformou a região. Hoje, enquanto os prédios ao redor são todos modernos, ele parece congelado no tempo;
- McDonald’s UFO (Roswell, EUA): O restaurante em si já é incrível, mas o que me ganhou foi a lojinha de souvenirs. Quem não ama um bom souvenir?
- Denton House (New Hyde Park, NY): Esse foi um dos primeiros McDonald’s a adotar um design mais integrado à arquitetura local. Depois dele, várias cidades começaram a exigir que a rede adaptasse suas lojas para combinar melhor com o ambiente.
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*Com informações da CNN internacional