Taiwan cria drones de última geração temendo guerra com a China

Uma invasão da ilha de Taiwan pela China nunca pareceu tão perto de ocorrer.

Em Pequim, Xi Jinping moderniza suas Forças Armadas. Do outro lado do Pacífico, americanos estimam que uma ação armada pode ocorrer até 2025. E, em meio a essa crescente tensão, Taiwan trata de se proteger.

No dia 14, a ilha apresentou a um grupo de jornalistas internacionais novos modelos de drones militares, exibindo como preparam suas defesas para caso sejam invadidos.

O plano é inspirado no sucesso da Ucrânia no uso de drones em ataques contra a Rússia e conta com a experiência de ponta de Taiwan na produção de semicondutores para controlar essas armas.

Os equipamentos foram desenvolvidos em meio à tensão crescente das relações políticas no Estreito de Taiwan nos últimos anos e acompanham os investimentos na área militar feitos em toda a região do Indo-Pacífico, incluindo a .

O esforço da ilha autônoma de Taiwan em fortalecer a segurança começou em 2019, com a apresentação de diretrizes da presidente Tsai Ing-wen após o governo chinês – que reivindica a ilha como parte de seu território – propor o modelo “Um país, dois sistemas”, usado em Hong Kong e Macau, para integrá-la à República Popular da China. Após a guerra na Ucrânia, esse esforço se intensificou, apesar de especialistas considerarem que o risco de um conflito não é iminente.

Oito tipos de drones desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Chung-Shan foram apresentados. Desses, cinco são modelos exibidos ao público pela primeira vez.

Segundo o diretor da Divisão de Pesquisa de Sistemas Aeronáuticos do instituto, Eric Chi, os modelos têm funções de combate ou vigilância e foram projetados para diferentes áreas das Forças Armadas de Taiwan.

A ilha deve produzir cerca de 3 mil drones em parcerias com empresas no próximo ano e deixa claro que a produção é “em resposta às novas tendências de guerra global”.

“Nossos militares têm construído ativamente capacidades de guerra assimétrica (quando um dos lados em conflito tem superioridade militar evidente)”, disse Chi, segundo a CNN.

Os detalhes técnicos dos drones não foram revelados por questões de segurança, mas os equipamentos foram construídos com a tecnologia de Taiwan, que produz os semicondutores mais avançados do mundo. Eles têm o objetivo de tornar as forças militares mais ágeis e difíceis de se atacar.

Alguns dos drones exibidos têm capacidade de atacar outros veículos que estejam no céu; outros possuem capacidade de vigilância para rastrear navios de guerra, por exemplo.

Essas duas características são respostas a táticas utilizadas no ano passado pela China, que enviou drones para áreas próximas da ilha e aumentou a atividade da Marinha no Estreito de Taiwan após a visita da então presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi. A visita foi vista por Pequim como violação da política internacional de “Uma só China”.

Para o analista David Sacks, do centro de estudos americano Conselho de Relações Exteriores, o desenvolvimento dos drones tem um papel crucial para Taiwan se tornar menos dependente dos EUA na área militar em um momento em que a indústria de defesa americana está sobrecarregada por causa da guerra na Ucrânia.

“Está muito difícil para nós (americanos) fornecermos à Ucrânia o que ela precisa, aos militares dos EUA o que eles precisam e garantir que Taiwan tenha o que precisa”, afirmou.

Desafio logístico 

Além de ser o maior fornecedor de armas para Taiwan, os EUA se comprometem desde 1954 em defender a ilha caso ela seja atacada por Pequim, que também investe em seu Exército em um grande projeto de modernização.

Um eventual conflito no estreito, no entanto, demandaria questões logísticas difíceis para os americanos. “Taiwan é uma ilha, enquanto a Ucrânia está cercada por países da Otan que fazem o transporte (de equipamento militar) até suas fronteiras”, disse Sacks.

Além do desenvolvimento de drones de vigilância e de ataque, outros movimentos de Taiwan para fortalecer suas forças militares são o investimento, que resultou em um aumento de 13,9% no orçamento de defesa para este ano, e a extensão do serviço militar obrigatório, que vai passar de quatro meses para um ano a partir de 2024. Neste mês, o governo de Taiwan também obteve o aval do governo Joe Biden para realizar uma compra de US$ 619 milhões (R$ 3,2 bilhões) em equipamentos militares, incluindo mísseis para os caças F-16.

O que um conflito bélico com a China significaria para a sociedade de Taiwan e como ela responderia, no entanto, é desconhecido.

Apesar das tensões políticas, a relação da ilha com o território continental chinês é forte, com grande fluxo econômico e de pessoas entre os dois lugares. Uma guerra no Estreito não teria um custo alto somente para Taiwan, mas também para a China.

“A elite econômica de Taiwan é muito consciente do que significaria uma guerra. A China é o maior importador de produtos da ilha e um conflito teria um impacto significativo”, avaliou o professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisador da China, Marcos Cordeiro Pires.

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