Sur: blockchain pode facilitar criação de moeda comum entre Brasil e Argentina

Os governos do Brasil e da Argentina confirmaram nesta semana que estudam a criação de uma moeda comum, que pode ser batizada de sur, como uma forma de incentivar e aumentar as trocas comerciais entre os países e reduzir a dependência do dólar. E a tecnologia blockchain poderia ter um papel importante nessa iniciativa, segundo especialistas.

A ideia defendida pelo governo brasileiro é de que a sur não substituiria o real ou o peso argentino, mas seria usada como um “meio do caminho” para exportações e importações, substituindo o papel atual que a moeda norte-americana possui. João Zecchin, sócio-fundador da Fuse Capital, acredita que o blockchain “com certeza conseguiria ajudar” nessa tarefa.

Entre as possibilidades citadas à EXAME estão desde a criação de uma CBDC – moeda digital de banco central – emitida pelos dois países até o desenvolvimento de uma “moeda sintética”, que não ligaria as políticas monetárias das duas nações, respeitando com isso as diferenças econômicas significativas entre o Brasil e a Argentina atualmente.

Uso de blockchain

Zecchin observa que as experiências de moedas úncias em países com políticas monetárias totalmente diferentes são “um pouco exóticas”, já que faltariam “ferramentas de controle de inflação”. Isso já é um problema para regiões como a zona do euro, onde mais de 20 países dividem a mesma moeda, e poderia “dar problemas” ainda maiores para o Brasil e a Argentina.

Entretanto, se o objetivo é lançar a sur como uma terceira moeda, sem substituir as outras duas, o blockchain poderia ser usado para “criar quase que uma moeda sintética dos dois países, com uma taxa independente de câmbio e uma moeda de troca sintética entre a oferta e a demanda entre as nações”. Ele destaca que a possibilidade já foi inclusive estudada na América Latina, mas não avançou.

“É uma solução para ter um meio do caminho, sem comprometer os dois bancos centrais a políticas monetárias idênticas mas mesmo assim facilitar o câmbio. Poderia usar inclusive a infraestrutura do Real Digital e de um futuro Peso Digital e criar uma taxa de troca com liquidações pelo blockchain, fugindo também do SWIFT”, observa, citando o atual sistema de processamento de transações internacionais.

O sócio da Fuse diz ainda que o uso dessa tecnologia abre margem também para que outras empresas criem novas aplicações para a moeda sintética, incluindo protocolos de empréstimo para facilitar concessão de créditos ou mecanismos de hedge.

“A partir do momento que usa o blockchain, você para de depender do Estado para desenvolver aplicações e depende mais da tecnologia, então a inovação consegue correr mais solta. Se a proposta é mais na linha digital, então também consegue ajudar nesse lado”, afirma.

Já Nathan Valadares, COO da empresa de venture capital e pesquisa em Web3 Viden Ventures, ressalta que a integração regional é importante para que os países superem barreiras que dificultam fluxos de trocas de serviços, mercadorias, pessoas e capital. E uma moeda virtual como a sur conseguiria contribuir para isso.

Ele acredita que, caso o projeto se concretize, o Brasil passaria a ter o real, com sua versão digital, e uma CDBC comum entre os dois países: “neste quesito, a CBDC entre Brasil e Argentina, a exemplo do Real Digital, pode utilizar a tecnologia blockchain como aliada, através de seus benefícios de confiabilidade”.

“A tecnologia blockchain possui capacidade de armazenamento de informações sobre a origem e a composição das mercadorias à prova de adulteração, o que pode melhorar a documentação da cadeia de fornecimento entre os países, tornando mais confiável o cumprimento das normas de sustentabilidade”, destaca Valadares.

Ele avalia ainda que a tecnologia facilitaria o acesso das autoridades governamentais a informações sobre mercadorias, simplificando procedimentos aduaneiros e tributários e, com isso, “tornando-os menos vulneráveis à corrupção e à fraude”.

Para Henrique Teixeira, head global de Novos Negócios da corretora de criptomoedas Ripio, “a criação de uma moeda única para facilitar o comércio exterior entre Brasil e Argentina, além de facilitar a integração entre o comércio exterior dentre os países participantes, pode trazer uma série de outros benefícios”.

O porta-voz da Ripio, que é argentina mas opera no Brasil, acredita que o uso da tecnologia blockchain facilitaria as conversões nas moedas locais para a sur e tornaria o projeto mais barato e com maior liquidez. Ele defende ainda que “é fundamental que os governos implementem uma solução que possa ser facilmente utilizada pelo mercado financeiro, empresas e demais usuários, com baixo custo e rapidez”.

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