Diante do cenário fiscal ainda incerto do Brasil, o BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME) manteve o seu portfólio mais defensivo, estratégia que o banco tem tomado desde dezembro. A equipe de estrategistas decidiu por ações de fluxo de caixa concentrados no curto prazo, pagadoras de altos dividendos e empresas que se beneficiam da valorização do dólar.
Dentre as mudanças, está a inclusão da B3 (B3SA3) à carteira recomendada de ações em fevereiro de 2025, substituindo o Itaú Unibanco (ITUB4), após seu forte desempenho. “O aumento da concorrência tem sido um tema recorrente, mas pode levar mais tempo para se materializar do que se temia”, diz o relatório, que mantém a BB Seguridade (BBSE3) na carteira, já que se beneficia de taxas de juros maiores e há a expectativa para dividendos elevados.
Outra mudança realizada é a substituição da Marcopolo (POMO4) pela Cury (CURY3) devido ao aprimorado programa de moradias populares Minha Casa, Minha Vida. A equipe do banco de investimento também manteve os lugares de Suzano (SUZB3) e WEG (WEGE3), mas substituíram a JBS (JBSS3) pela Embraer (EMBR3). A exposição adicional ao câmbio no portfólio fica a cargo da Petrobras (PETR4).
As concessionárias de serviços básicos Sabesp (SBSP3) e Eletrobras (ELET3) e a TIM (TIMS3) completam a lista das carteiras recomendadas. “Estamos mantendo uma parte da carteira alocada em serviços básicos. A TIM também permanece, uma vez que modelamos os pagamentos de dividendos que podem ser o equivalente a cerca de 16% de seu valor mercado nos próximos 15 meses”, afirma o relatório do BTG Pactual.
O contexto da bolsa nos últimos meses
Após uma queda expressiva das ações em novembro e dezembro (7,3% em reais e 13,2% em dólares), o Ibovespa se recuperou e fechou janeiro com alta de 4,9% em reais e 11% em dólares. O bom desempenho do índice local em janeiro pode ser atribuído a um cenário externo mais favorável.
No final de 2024, a predominância de Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos e as propostas do republicano em relação a políticas comerciais e de imigração, que poderiam pressionar a inflação, resultaram em aumento nas taxas dos títulos de 10 anos dos EUA, tanto nominais quanto reais – com as taxas nominais subindo 28 pontos-base e as taxas reais, 27 pontos-base, em novembro e dezembro.
O movimento elevou as taxas no Brasil, impactando negativamente o Ibovespa no último trimestre de 2024. Em janeiro, o cenário se reverteu parcialmente, uma vez que os primeiros anúncios de aumento de tarifas do presidente Trump foram menos agressivos do que o esperado. Como resultado, as taxas reais americanas de 10 anos caíram 12 pontos-base, contribuindo para a recuperação do Ibovespa (em dólares) no mês.
O cenário externo ajuda a explicar alguns dos altos e baixos do mercado doméstico, mas, em relação à política fiscal, nada mudou desde o ano passado. “Os ativos de risco brasileiros se deterioraram acentuadamente nos últimos meses, uma vez que a confiança dos investidores na sustentabilidade da estrutura fiscal e na trajetória da dívida do país atingiu os menores níveis de vários anos. Sem medidas estruturais mais significativas para reduzir o ritmo de expansão da dívida, o que parece altamente improvável, não esperamos uma recuperação sustentada das ações brasileiras”, afirma o relatório.
Por fim, o documento alerta que uma economia aquecida aumenta a incerteza fiscal, o que eleva as expectativas de inflação. Neste ponto, a equipe macroeconômica do BTG Pactual projeta que a inflação encerrará 2025 em 5,8% e 2026 em 4,4% — em comparação com uma meta de inflação de 3%. A equipe econômica também projeta dois aumentos adicionais de 50bps em maio e junho, levando a taxa Selic para 15,25%, o nível mais alto desde 2006.
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Fonte: Exame