
A Ryu Ga Gotoku tem feito seu nome há décadas, desde 2005 com o lançamento do primeiro jogo Yakuza trazendo a história do já icônico personagem Kazuma Kiryu. Ao longo de sete jogos, Kiryu foi um protagonista digno de qualquer anime/mangá de qualidade, trazendo uma força de vontade inexorável e habilidades de combate praticamente lendárias.
Em 2020, porém, um movimento impressionante da Sega acabou renomeando a franquia para Like a Dragon, além de trazer uma mudança completa no jogo de ação que adotaria uma abordagem de combate por turnos, além de trazer um novo protagonista. Após anos sem novidades, o estúdio trouxe Kiryu de volta aos holofotes em uma aventura que serve para fazer uma ponte entre Yakuza: Like a Dragon e Like a Dragon: Infinite Wealth com Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name.
O homem sem nome
Após os eventos de Yakuza 6, Kazuma Kiryu decide desistir de sua vida para proteger aqueles que mais ama. Diante disso, com a ajuda de uma nova facção chamada Daidoji, atuando como um agente especial em missões moralmente questionáveis sob a alcunha de Joryu.
Entretanto, não demora muito para seus antigos rivais da Aliança Omi começarem a buscá-lo ativamente, sem acreditar na história de sua morte forjada. Sem opção, Kiryu decide viajar para Sotenbori onde uma bizarra caçada tem início. Contando apenas com a jovem Akame, uma facilitadora de contratos do submundo da cidade, Kiryu começa a trabalhar em uma solução que consiga manter seu disfarce e deixar aqueles que ama fora de perigo.
Assim como todas as outras histórias da saga, o elemento dramático continua bastante firme, com reviravoltas exageradas e bons diálogos antes dos personagens caírem na pancadaria, exatamente como um anime shounen clássico como Naruto, Bleach ou Dragon Ball. Como se trata da oitava aventura com Kiryu, é bastante indicado que o jogador ao menos tenha noção dos eventos traumáticos que ocorrem em Yakuza 6 – outro excelente jogo.
Dessa forma, o jogador tirará melhor proveito da história, além de reconhecer algumas participações muito especiais de outros personagens icônicos. Ter jogado Yakuza: Like a Dragon também é uma boa ideia já que a história acaba cruzando eventos mostrados na aventura de Ichiban em 2020.
Ao contrário de outros grandes jogos da saga, Like a Dragon Gaiden traz uma história mais enxuta, sendo claramente um jogo que deve ser encarado como um derivado da franquia. Há limitações notórias de orçamento, principalmente no trabalho com a dublagem que é mais limitado por aqui – várias missões secundárias não recebem diálogos falados, apenas escritos (o que já é um vício da saga há um tempo).
O mesmo ocorre com os mapas que são reciclados de outros jogos – Sotenbori já estava pronta desde Yakuza Kiwami 2, assim como Yokohama que aparece brevemente na história. O que temos de áreas novas é o cenário do Coliseu, um enorme navio de conteineres que serve como fonte de entretenimento para figuras ricaças e perigosas da elite japonesa.
Enquanto não posso falar muito da história do jogo justamente por não estragar as surpresas espalhadas em uma campanha mais curta, é válido elogiar o trabalho sempre muito criativo do Ryo Ga Gotoku em jogar Kiryu em situações completamente novas, trazendo temáticas inéditas e conflitos que evoluem conforme o personagem cresce.
O mesmo pode ser dito com a facilidade de criar novos personagens interessantes como Akame e Hanawa, os novos parceiros de Kiryu. O mesmo ocorre com a rivalidade na figura carismática de Shishido e no carisma inegável do antagonista Nishitani III, extremamente excêntrico que chega a se tornar uma figura que remete a Pagan Min de Far Cry 4, mas com muito mais presença de cena.
Como os fãs esperam, é muito difícil ficar decepcionado com a ótima narrativa de Like a Dragon Gaiden, embora as limitações de orçamento acabem prejudicando o ritmo da narrativa por um motivo bastante específico.

O dilema do filler
Era inevitável que diversas concessões teriam de ser feitas para Like a Dragon Gaiden sair do papel, afinal o jogo foi desenvolvido ao mesmo tempo que Like a Dragon Ishin! e o novo capítulo principal da saga com Infinite Wealth. Diante disso, com menos recursos e tempo de produção, o game é notoriamente mais curto, mas não somente isso: ele também tem bastante conteúdo filler que se torna parte da experiência principal.
Quem conhece a franquia sabe que as missões secundárias sempre são muito bem escritas, trazendo histórias até mesmo inusitadas. Aqui, acontece o mesmo, com diversas delas ressoando com o passado de Kiryu até então, formando praticamente uma enorme carta de amor ao personagem e sua jornada.
O problema é que isso acaba prejudicando bastante o ritmo da história principal, colocando barrigas na jornada que poderiam estar justamente como conteúdo secundário, afinal elas são missões secundárias. Como cada uma trata de uma história em si, nada tem a ver com o progresso da trama principal e isso acaba prejudicando o jogo e escancarando a limitação de orçamento e tempo de produção.
Todo esse conteúdo é disponibilizado através das missões da Akame que conta com eventos aleatórios em Sotenbori, além de outras mais elaboradas que trazem maior ganho de experiência. Com esses pontos e também do dinheiro recebido das missões, é possível aumentar o nível das habilidades do protagonista do mesmo modo que ocorria em Yakuza 6.
Aqui as árvores de habilidades se dividem entre recursos básicos como dano, vida e barra especial – chamada de cólera, além de trazer novos golpes para os estilos de luta do personagem. A maior novidade do jogo é o modo Agente que traz um estilo muito rápido e preciso de luta, além de apresentar alguns gadgets de “agente especial”, incluindo um cordão extremamente útil para pegar objetos que servem como armas no cenário, drones e cigarros explosivos, além de um jato de propulsão nos sapatos de Kiryu.
O outro estilo traz o combate clássico de luta de rua, firmado nos tempos de Yakuza do personagem. Aqui os golpes são mais lentos, mas mais poderosos, sendo ideal em lutas contra um único adversário enquanto o Agente é ideal para lutar contra vários inimigos de uma só vez.
A fluidez do combate continua excelente, além de mandar os inimigos pelos ares após um murro muito bem dado ser extremamente divertido – ainda mais pelas físicas de ragdoll aplicada em oponentes desacordados.
Outra marca registrada dos games Like a Dragon são os minijogos e atividades secundárias e Gaiden possui uma infinidade deles. Desde jogos de apostas como blackjack e poker no território fascinante do Coliseu e seus castelos, até karaokê, dardos, sinuca, encontros românticos com hostess de bares e, claro, o autorama – a maior paixão de Kiryu. É um conteúdo que já estava pronto e foi muito bem-vindo na nova iteração da saga.
Não é possível afirmar que o jogo está mais bonito já que é feito na mesma engine dos outros três títulos recentes da saga que permanece visualmente lindos. A maior novidade é mesmo trazer de volta o combate em tempo real e lembrar dos tempos em que a saga se comportava como um brawler de rua aproveitando algumas inspirações na saga GTA.

O clássico para os fãs
Por mais que Yakuza: Like a Dragon seja excelente e conte também com um protagonista ótimo na figura de Ichiban, não dá para negar que os fãs estavam com saudade do bom e velho Kiryu, sua personalidade estoica e o estilo de combate em tempo real. Felizmente, Like a Dragon Gaiden entrega tudo isso e muito mais. Mesmo pelo preço cheio e considerando que é uma aventura mais enxuta, minha recomendação permanece positiva. Não existe a franquia sem Kazuma Kiryu. Like a Dragon Gaiden é mais uma iteração obrigatória para todos os fãs da franquia.
⭐⭐⭐⭐
Avaliação: 4 de 5.
Agradecemos a SEGA pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.