Pandemia expôs fragilidades básicas que, corrigidas, reduziriam mortalidade materna no Brasil

mortalidade materna
(Foto: yanalya/Freepik)

Em 28 de maio foram lembradas duas datas de extrema importância quando se fala em saúde feminina: Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher e Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, estabelecidos durante o IV Encontro Internacional Mulher e Saúde, realizado em 1984, na Holanda, com o objetivo de sensibilizar e conscientizar diversos atores da sociedade – civil, de profissionais da saúde e poder público – sobre as diversas questões de saúde que afetam as mulheres.

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O Painel de Monitoramento de Mortalidade Materna revelou que o número de óbitos maternos registrados no Brasil em 2021 alcançou o maior patamar em 22 anos. Ao todo, 2.857 mulheres grávidas e puérperas perderam suas vidas, o que equivale a uma média de 8 óbitos por dia. Esse crescimento de mais de 45% em comparação com o ano anterior está principalmente relacionado à pandemia da COVID-19, tendo como causa de mortes síndromes respiratórias agudas essencialmente.

O obstetra Marcos Nakamura Pereira, presidente da Comissão Nacional Especializada em Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), afirma que, ainda que mortes em decorrência de complicações da COVID-19 tenham elevado os números deste cenário, “não podemos deixar de observar que mortes diretas evitáveis continuaram acontecendo entre 2019 e 2021 [período agudo da pandemia]”.

“Essa análise expõe fragilidades estruturais de nosso sistema de saúde, uma vez que óbitos por hemorragia pós-parto grave, hipertensão e abortos são definitivamente evitáveis”, reforça. Na visão do especialista, a emergência sanitária da COVID-19 deixou muito claro que o Brasil precisa de mais leitos de cuidado intensivo obstétrico, pois a mulher gestante não precisa só de intensivista, mas também de um olhar de um obstetra com experiência no alto risco.

Pós-emergência sanitária

Uma vez expostas situações evitáveis de mortes maternas, os cuidados com a qualidade do pré-natal, acesso ao sistema de saúde, qualificação e atualização contínua de profissionais para emergências obstétricas e uma rede mais articulada para casos de complicações graves, especialmente em locais longe de grandes centros. “É urgente termos uma rede mais articulada para casos de complicações obstétricas mais graves para que não haja demora na assistência à gestante”, crava ao informar que a FEBRASGO atua institucionalmente no apoio a iniciativas que visam a redução da mortalidade materna, independentemente do governo.

A Federação, de fato, oferece cursos, treinamentos e conteúdo visando a atualização profissional, além de materiais ricos para público leigo. “Entendemos nosso papel como um importante canal de comunicação com ginecologistas e obstetras no sentido de promover qualificação e junto à população em geral oferecer informação confiável e de qualidade”, explica.

O vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Mortalidade Materna da FEBRASGO, Rodolfo de Carvalho Pacagnella, explica que “para reduzir a mortalidade materna, é necessária uma atuação sistêmica em todo o sistema de saúde. É importante reconhecer o papel central da mulher na nossa sociedade. A morte materna acontece porque não se dá a devida atenção às mulheres na nossa sociedade”.

Rodolfo assinala que há três fases que comprometem a qualidade dessa assistência. “É preciso ter um investimento em todo o sistema de saúde, de maneira que se evite três demoras que levam a morte. A demora na fase um, em reconhecer que há um problema de saúde, ou seja, a mulher reconhecer que há um problema no corpo dela. É preciso ter educação para reduzir esse intervalo. A segunda é a demora em chegar a uma unidade de saúde. Para isso, é preciso ter transporte e uma rede de assistência adequada. E a demora de fase três, que diz respeito ao diagnóstico adequado e ao tratamento oportuno que vai ser oferecido a essas mulheres assim que elas chegarem no sistema de saúde”, diz.

Segundo Pacagnella, as altas taxas de mortalidade materna estão relacionadas a problemas sociais. “Quanto maiores as taxas, maiores as desigualdades daquele país ou região. Países de alta renda, com igualdade entre gêneros, têm taxa de mortalidade materna muito baixas”, explica.

Prevenção

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos para serem alcançados até 2030 é a redução da taxa global de mortalidade materna para menos de 70 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos. O Brasil estabeleceu reduzir a mortalidade materna para 30 óbitos por 100 mil nascidos vivos até 2030 a fim de contribuir para esse objetivo.

Para o especialista da FEBRASGO, o mais indicado para a prevenção e o tratamento de doenças como HPV, endometriose, e de colo de útero, fibromialgia, depressão e obesidade – que figuram entre as maiores incidências de agravamento e morte entre mulheres no Brasil – são consultas e exames regulares, práticas que podem fazer a diferença na saúde da mulher, já que o diagnóstico tardio pode prejudicar o processo de tratamento e cura. Um dos maiores desafios da saúde pública é oferecer serviços de qualidade à saúde integral da mulher.

Para Rodolfo, esses desafios existem, por consequência da forma como a mulher é vista pela sociedade. “Em uma sociedade que enxerga a mulher como um ser de segunda categoria, se investe pouco na vida das mulheres, se investe pouco na qualidade de vida dessas mulheres, se investe pouco no reconhecimento dessas mulheres como fundamentais para a constituição de um país, de uma sociedade justa e igualitária”, finaliza.

*Informações Assessoria de Imprensa

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