Na Expo Favela, o poder econômico encontra o empreendedorismo periférico em uma agenda bilionária

O WTC, imponente condomínio empresarial na Avenida das Nações Unidas, no epicentro financeiro da cidade de São Paulo, recebe a maior feira de empreendedorismo que conecta o asfalto e a quebrada: a Expo Favela Innovation. A segunda edição do evento, uma realização da Favela Holding, acontece nos dias 17, 18 e 19 de março, e conta com exposições, pitches de startups, debates, palestras e conferências, tudo criado por moradores de favelas do país inteiro com o apoio de grandes nomes do empreendedorismo. O objetivo: mostrar para a sociedade o poder econômico da periferia.

“A favela é potência” foi o mote levantado ao longo do primeiro dia de evento. Logo nos primeiros painéis, o tema presente era como as favelas brasileiras funcionam como verdadeiros países, ecossistemas econômicos complexos, e a importância de se enxergar as favelas como epicentros econômicos, capazes de movimentar bilhões de reais. Segundo levantamento do Data Favela, existem 8,8 milhões de domicílios em favelas, lar de 17,9 milhões de brasileiros. Apenas a população adulta dessas localidades, de  12,7 milhões de pessoas, supera a da Suécia. A pesquisa estima que as favelas são capazes de movimentar R$ 202 bilhões em renda própria por ano. 

A vida na comunidade

Viver em uma favela é uma experiência única, e o rapper MV Bill expõe um pouco dessa realidade: “Capacidade para bater de frente e modificar o que foi predestinado para a gente. Dignificar o que foi conquistado, mudar o estado, sair de baixo”, disse Bill. A luta das favelas começa pela geografia e permeia camadas sociais e econômicas. E a Expo Favelas existe com o intuito e a ambição de mostrar a favela para o mundo, fora das bolhas de estereótipos como pobreza, violência, assalto e tráfico. Para isso, é essencial ter o envolvimento do poder público, iniciativa privada e sociedade civil.

Chegamos ao segundo ano deste evento, que é mais que um evento. Estamos falando do início de um movimento de massificação da nossa potência. Quando falam de favelas, muitos falam sobre pessoas carentes. Eu não conheço pessoas carentes em favela, conheço pessoas potentes. E é isso que queremos mostrar”, afirmou o CEO da Favela Holding, Celso Athayde, na abertura da conferência. “Eu costumo dizer que só acredito na evolução quando há respeito. Quando virem pessoas ricas aqui, não estranhem. Queremos juntar fundos de investimento e empreendedores das favelas”, comentou o Athayde, nascido na Baixada Fluminense e criado na Favela do Sapo. 

Ricardo Nunes, prefeito de São Paulo, também participou da abertura do evento e salientou a importância de se ter trabalhos que lutem pela harmonia, dialoguem com todos e incluam as pessoas. “Um conjunto de ações que precisamos fazer para diminuir a desigualdade é a geração de emprego e renda”, comenta. 

A favela e o asfalto

“Antes de entender a favela, é preciso entender o seu contraponto: o asfalto. A favela é fruto de uma sociedade desigual e da exclusão. As favelas precisam ser vistas como um território de resistência e um território de oportunidade. Não dá pra falar sobre as favelas sem ter a humildade de aprender sobre as favelas”, afirmou Renato Meirelles.  

Em uma mesa que contou com Luciano Huck como mediador, a influencer Bianca Andrade, o economista Armínio Fraga e Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (Cufa), discutiram a mobilidade social e o papel do empreendedorismo. Segundo dados da Data Favela, 50% dos moradores de favela empreendem, correspondendo a 5,2 milhões de empreendedores. E muitos empreendem por necessidade para sobrevivência. Pensando nisso, os convidados do painel falaram sobre o poder da criativa e da importância de se criar diálogos para continuar sempre aprendendo. 

“Deveríamos fomentar o empreendedorismo feminino porque a realidade não mudou desde que eu saí das favelas. E o que faltou? Foi justamente o incentivo, de entender que para aquela mulher há oportunidade e mostrar que existe uma chance de, pelo menos, sonhar o que se pode fazer, que não seja só a história da Bianca para o mundo mas de diversas mulheres das favelas”, disse Andrade, também conhecida como Boca Rosa, que cresceu no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, e foi criada por uma mãe solo.

Armínio Fraga se mostrou otimista pelo futuro. “Tudo no Brasil tem espaço pra melhorar, isso me dá esperança”, disse. “Não acreditem que para o Brasil crescer temos que investir em uma única parcela mas na massa de pessoas que começam do zero, no saldo devedor”. 

Preto Zezé ressaltou a importância do terceiro setor para o pequeno empreendedor: “empreender é um conceito novo para nós, mas a favela já se vira, faz o corre dela. Existe uma dinâmica quase que de vergonha de quem está no cotidiano para falar sobre dinheiro. É necessário se apropriar disso, quando você produz coisa de preto, de favela, no Brasil você acaba sendo coadjuvante e é importante unir todos os pontos para criarmos diálogo. A favela fica tímida, muitas vezes a régua que nos mede é a da desgraça”, comentou. “Quem mantém a favela em pé são rostos que às vezes você não vê, enquanto o país for bom só para uma minoria isso aqui não será uma nação.” 

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