Lula entra em campo para fortalecer base no Congresso após derrotas na Câmara

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começou a agir de maneira concreta e pública para que seu governo deixe de ser refém de um Congresso Nacional que tem se mostrado hostil e voraz, em especial a Câmara dos Deputados. O petista abriu sua agenda para conversas frente a frente com lideranças do Parlamento, está promovendo mudanças na articulação e preparando o terreno para trocas em cargos do primeiro escalão.

A promessa de que Lula assumiria papel central na articulação está sendo feita há pelo menos um mês nos corredores de Brasília, mas virou realidade mesmo quando o Planalto viu grandes riscos de derrota na votação da medida provisória que redesenhou a estrutura do governo, na semana passada.

Após uma vitória com gosto de derrota, Lula resolveu se adiantar e abrir frentes de diálogo antes das próximas votações. Na segunda (5/6), o presidente encontrou tempo para tomar café da manhã com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Ao sair do encontro com Lula pela manhã, Lira voltou a dizer, em entrevista para a CNN, que o governo não tem uma base orgânica no Congresso e cobrou do Executivo que divida o poder com o Legislativo. “Não foi eleito um Congresso de esquerda, o Congresso é reformador, liberal [na economia], conservador [nos costumes]”, afirmou o presidente da Câmara. “Mas o presidente está se movimentando e é importante que se movimente. Agora o governo tem noção exata da dificuldade”, completou Lira.

Ministros palacianos fragilizados

A relativa demora de Lula para entrar em campo efetivamente no varejo da articulação tinha como uma das razões a preocupação, no governo, em não fragilizar os ministros responsáveis pela articulação do governo e pela relação com os parlamentares e entes federativos, que são, principalmente, Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, e Rui Costa, da Casa Civil.

A fragilidade deles, porém, ficou escancarada ao longo da semana passada e o presidente percebeu que protegê-los não estava se traduzindo em melhora nas relações políticas. Lula não perdeu a confiança em seus auxiliares palacianos nem pretende trocá-los por enquanto, mas aceitou que eles nunca terão as portas totalmente abertas em um Congresso cujos líderes querem justamente tomar para si o poder dos ministros, de controlar a liberação de verbas, emendas e cargos.

O ministro Rui Costa ainda conseguiu atrair mais atenção negativa para si mesmo ao fazer duras críticas a Brasília durante evento na Bahia, seu estado natal, na última sexta-feira (2/6). O ministro chamou a cidade de “ilha da fantasia” e disse que teria sido melhor a capital brasileira “ter ficado no Rio de Janeiro, ou ter ido para São Paulo, para Minas ou Bahia”. As falas pegaram muito mal não apenas entre políticos e moradores da cidade, mas junto a parlamentares de todo o Brasil, que consideraram as declarações uma crítica à política de modo geral. “Essas coisas não ajudam”, resumiu Arthur Lira, sobre o episódio.

Lideranças do Senado

Ainda na segunda, Lula e Alexandre Padilha se reuniram com senadores. Conforme um dos líderes no Senado disse ao Metrópoles, a reunião foi de agradecimento, mas há, ainda, preocupação do presidente em limpar os trilhos entre Planalto e Congresso, além de tratar das demandas das lideranças. Mais cedo, o próprio Jaques Wagner (PT-BA), já tinha sinalizado algo nesse sentido.

Participaram da reunião o próprio Jaques, líder do governo no Senado,  Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder do governo no Congresso, Fabiano Contarato (PT-ES), líder do PT no Senado, Otto Alencar (PSD-BA), Renan Calheiros (MDB-AL), Izalci Lucas (PSDB-DF) e Jorge Kajuru (PSB-GO).

Kajuru, pouco após o encontro, disse que ficou definido que as próximas prioridades do governo serão a PEC dos militares, encontros com religiosos e com o agro, para estreitar relações.

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