Joesley Batista lança Instituto J&F para transformar negócios em empresas educadoras

Na primeira sala de aula, 20 alunos de 15 anos aprendem sobre fundos de investimento. Na segunda, outro grupo, também do primeiro ano do ensino médio, estuda contabilidade com foco em pontos de venda. Na terceira, o tema é alienação fiduciária. Na quarta, programação em Python. Todos são estudantes da Germinare, a escola modelo do Instituto J&F, mantido pela holding que controla negócios como a empresa de alimentos JBS e o Banco Original.

A escola, com 913 alunos, fica a um corredor de distância da sede da companhia, na zona oeste de São Paulo, onde trabalham 3 mil pessoas. A Germinare tem salas de aula modernas, ginásio, restaurante que serve todas as refeições e até uma loja-escola onde os jovens podem treinar conceitos aprendidos em sala de aula, como precificação. Vende de acessórios de couro a mortadela fatiada na hora. A proposta é que os alunos aprendam na prática para estar preparados para o mercado de trabalho a começar, claro, pelas empresas do grupo.

Além das aulas, os cursos técnicos oferecem aos alunos experiência prática em atividades como analistas de finanças do Banco Original ou vendedores de marcas como Seara, Friboi ou Flora. Aos 15 anos, os jovens visitam pontos de venda e são responsáveis por carteiras de mais de R$ 100 mil de pedidos por mês. A loja dentro do complexo também é gerida por uma aluna, Gabriela Penteado, de 16 anos, que coordena dez funcionários e a venda de 1,6 mil itens diferentes, com faturamento de R$ 580 mil por mês. Jovens como ela gerenciam 40 lojas da empresa na Grande São Paulo.

“Levamos para o instituto a mesma de aprendizado e trabalho com a qual criamos nossos negócios”, diz Joesley Batista.

O empresário conduziu a reportagem da EXAME pelos corredores da escola, onde sabia de cor os nomes de alunos e funcionários. Fora do dia a dia dos negócios nos últimos anos, ele dá expedientes de até 14 horas por dia no sexto andar do instituto. Além de Joesley, fomos recebidos por seu pai, José Batista Sobrinho, fundador da JBS, negócio que hoje tem 280 mil funcionários pelo mundo e valor de mercado de R$ 37 bilhões. O instituto, segundo eles, vive um momento de reposicionamento para ganhar ainda mais importância para o sucesso do conglomerado.

Sala de aula da Germinare: estudantes aprendem programação, investimentos e legislação (Leandro Fonseca/Exame)

“Começamos como uma empresa de commodities. A explicação de porque demos certo só pode estar nas pessoas e no jeito de fazer as coisas”, diz Joesley. “O instituto trouxe metodologia para ações que fazemos intuitivamente há 70 anos. Poucas empresas têm uma cultura tão forte quanto a nossa. É uma cultura de perguntar muito, de construir junto as soluções, de não acreditar em um salvador da pátria, de simplicidade, de qualidade, de racionalidade nos custos”.

98% dos alunos saem empregados

O instituto J&F nasceu com a Germinare há 14 anos, oferecendo ensino gratuito para os aprovados num concorrido processo seletivo, que no último ciclo teve 8.787 inscritos. Do grupo atual de 913 alunos, 39% vem de famílias com renda per capita de até um salário mínimo e meio. O instituto tem também parceiras com mais de 170 escolas públicas, onde 89 mil alunos e 3,5 mil professores recebem apoio para melhorar o índice de aprendizagem. A criação de uma faculdade para dar seguimento à educação, e a ampliação geográfica para outras regiões, estão nos planos para os próximos anos.

Para além dessas ações, o grupo trata o atual momento como o relançamento do instituto, com o reposicionamento de sua atuação. O instituto J&F passa a concentrar todas as ações de educação das empresas, passando a atender mais de 280 mil pessoas, além de seus familiares e das comunidades no entorno.

“Queremos ser reconhecidos como uma empresa educadora. Estamos trazendo a educação para o centro da estratégia, integrando escola, trabalho, família e comunidade”, afirma Joesley Batista. “Nosso objetivo é criar um movimento pela educação dentro das empresas”.

As pessoas, segundo Joesley, serão o motor de crescimento das companhias. O volume e a qualidade de profissionais prontos para assumir novos desafios é o que determinará, nesta ótica, quanto pode crescer a JBS, uma companhia que chegou em 2022 a um faturamento recorde de R$ 375 bilhões.

Joesley na loja-escola: estudante de 16 anos é gerente e responsável por equipe de dez pessoas (Leandro Fonseca/Exame)

O objetivo é conectar o ensino com as frentes de crescimento do negócio. Um supervisor de produto, por exemplo, que antes sabia basicamente sobre a anatomia do boi, agora aprende também conceitos que envolvem análise de dados. Temas como inteligência artificial também farão cada vez mais parte dos currículos embora, na visão dos gestores da J&F, a tecnologia não vai substituir a importância de relações humanas. O desafio é unir, nas aulas, uma cultura de gestão que vem dando certo nas últimas décadas com as tecnologias e conceitos essenciais para o futuro.

Os projetos educativos começam com estudantes do ensino fundamental, e vão ganhando corpo à medida que os alunos se aproximam da idade em que já podem trabalhar como aprendizes e estagiários em projetos dentro dos diferentes negócios do conglomerado. Executivos das empresas do grupo são professores dos projetos. A Germinare, por exemplo, tem como diretor de negócios Paulo Gualtieri, ex-vice-presidente do grupo varejista GPA.

Na prática

Nas aulas, os alunos têm currículos voltados para três frentes: veterinária, tecnologia e negócios. Aprendem conceitos básicos e avançados de programação, precificação, logística, legislação e matemática.

Na aula de finanças que a EXAME acompanhou, por exemplo, o foco dos estudantes de 15 anos era passar na prova para o certificado CPA-20, voltado para gestores de investimento. Os alunos são orientados até a como operar derivativos, operações complexas do mercado de investimentos. Nas mesas, livros de gestão e de tecnologia, como “21 Lições Para o Século 21”, de Yuval Harari. Cerca de 98% dos alunos saem empregados em negócios do grupo. A julgar pelo crescimento dos últimos anos, oportunidade não deve faltar.

Prédio da Germinare: 913 alunos sendo preparados para funções dentro das empresas do grupo (Leandro Fonseca/Exame)

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