Glaucia Guarcello: Em terra de AI, quem tem humanidade será rei

Sistemas de AI orientados por dados já vem sido desenvolvidos por grandes empresas de tecnologia há alguns anos. O tema tem ganhado um novo capítulo de relevância após o lançamento do ChatGPT, ferramenta de inteligência artificial avançada em forma de chat bot da Open AI. Especializada em diálogos, suas capacidades são de fato impressionantes, indo desde a criação de conteúdo até a atuação como assistente virtual. Dentre algumas impressionantes conquistas, o chat já atua como coautor de artigos acadêmicos e até mesmo foi aprovado nos exames técnicos de medicina e direito.

As aplicações de uma plataforma de AI acurada e rápida são impressionantes e podem revolucionar o serviço de atendimento aos clientes, a gestão de conhecimentos da humanidade, a forma como aprendemos e a geração de conteúdo de formas nunca vistas. Diversas atividades realizadas majoritariamente por seres humanos podem ser disruptadas ou reinventadas. De fato, em um futuro próximo, será difícil saber diferenciar se esta coluna que você lê foi escrita por um ser humano ou por uma plataforma de AI com linguagem humana.

Neste contexto, impossível não nos questionarmos: e o que será dos seres humanos neste futuro? Qual valor poderemos agregar numa realidade de plena utilização do AI?

Os cenários desenhados são os mais diversos. Há quem defenda que os humanos terão mais tempo livre para criar e buscar mais qualidade de vida e até mesmo cenários catastróficos onde o AI se tornaria uma ameaça à sobrevivência humana. Ficções e futurismo deixados de lado, acredito que num contexto de extrema eficiência e pragmatismo como o prometido por este avanço tecnológico algo complexo e simples ao mesmo tempo terá um extremo valor: a nossa humanidade.

Lideranças humanizadas, atos de gentileza e bondade genuína, antes subestimados nos ambientes corporativos provavelmente terão seu valor ressignificado. Em uma realidade onde a habilidade de decorar e repetir informações não seja mais um valor, nossa humanidade potencialmente será o último e real valor que carregaremos conosco.

Já sabemos que estas tecnologias caminham de forma exponencial. Não deveríamos então como líderes investir de maneira mais intensa e consciente em características inerentemente humanas nas nossas organizações? Criatividade, artes, escuta empática e ativa, solidariedade, empatia, companheirismo, felicidade e, por que não, amor. Vínculos reais, humanos, significativos e que possam ajudar as próximas gerações a construírem uma sociedade potencialmente bem diferente e muito melhor do que a nossa.

Algumas reflexões saltam aos olhos: como temos endereçado estes temas em nosso dia a dia? Qual modelo de liderança e de formação de times temos defendido? Que tipo de líderes temos desenvolvido e valorizado? Como temos definido o que é sucesso e o que são os comportamentos esperados? Será que estes comportamentos e métricas que nos trouxeram até aqui terão algum valor neste futuro que se aproxima a passos largos?

Ainda não sabemos como todas estas tecnologias progredirão. Tampouco sabemos definir todo o potencial de transformação que gerarão em nossas rotinas e vidas. O que sabemos é que não existe luta justa se encararmos estas soluções como nossas concorrentes. Elas sempre irão ser melhores do que a gente no que elas se propõem a entregar. Porém, temos de nos manter sempre atentos para que o avanço de todas estas maravilhosas soluções não tire os nossos maiores poderes: cuidarmos um dos outros e sermos humanos. Em terra de AI, quem tem humanidade é rei.

*Glaucia Guarcello é professora do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e sócia-líder de Inovação da Deloitte

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