Crianças têm o direito de entender a política

Não é de hoje que a tensão no cenário político do Brasil só vem crescendo. A situação se agrava quando grandes eventos relacionados ao tema acontecem, como as eleições presidenciais. Diante dos fatos mais recentes, com os ataques ocorridos a prédios dos Três Poderes em Brasília, não podemos fechar os olhos para a necessidade de que todos os cidadãos brasileiros tenham acesso a informações que os levem a compreender a realidade.

No entanto, não é raro que os adultos se esqueçam de uma parcela importante da população quando o tema é política: as crianças. Como cidadãs que elas já são, crianças possuem direitos. Um deles é o de ter acesso a informações que consigam compreender.

Isso está previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), artigo 71: “A criança e o adolescente têm direito a informação, , lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. O direito dos jovens em se informar também aparece na Convenção Sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1989, em seus artigos 13 e 17, que dizem, respectivamente: “A criança terá direito à liberdade de expressão”. Esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e divulgar informações e ideias de todo tipo (…)”; “Os Estados Partes reconhecem a função importante desempenhada pelos meios de comunicação e zelarão para que a criança tenha acesso a informações e materiais procedentes de diversas fontes nacionais e internacionais (…)”.

Isso relembrado (ou esclarecido aos que não sabiam), fica a constatação: se a política influencia a vida de todos, ela exerce esse poder também no dia a dia das crianças. Para falar apenas do básico, política determina, por exemplo, os rumos da educação no país, o que afeta diretamente o cotidiano dos mais jovens. As decisões econômicas dos governos ditam os rumos do orçamento familiar. E assim por diante.

Além disso, na era das redes sociais e da informação disponível ao alcance de uma tela de celular, não há como se iludir na expectativa de criar uma bolha para que os mais jovens não tenham contato com fatos como os ocorridos na capital federal em 8 de janeiro. Aliás, muito além de isso ser uma ilusão, seria uma violação aos direitos citados acima — de toda criança ter acesso a informação.

É nosso papel, como adultos que convivem com crianças (sejam filhos, sobrinhos, enteados, alunos…), garantir que elas tenham acesso a meios que possam lhes esclarecer, por exemplo: o que são as eleições, o que é a democracia e o que há de informação confiável (bem apurada pelo jornalismo profissional) sobre os eventos que destruíram parte do patrimônio público de Brasília.

Ao compreender o que houve, guiada por veículos de imprensa que tragam linguagem acessível e adequada para sua faixa de idade, a criança conseguirá começar a desenvolver a própria opinião sobre os fatos e criar senso crítico diante da situação. Tudo isso será a base para uma construção a ser feita ao longo dos próximos anos e que culminará em um dos marcos da maioridade no Brasil: como cidadão, comparecer às eleições e ajudar a escolher os governantes do país. Um dos atos mais democráticos e desafiadores da nossa sociedade.

Se queremos jovens adultos melhor preparados no futuro para exercer o direito de votar, que comecemos agora a dar insumos para as nossas crianças compreenderem os acontecimentos mais relevantes do mundo da política.

*Maria Carolina Cristianini é editora-chefe do jornal Joca, para crianças e adolescentes, e Jornalista Amiga da Criança pela ANDI

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